Política

Governo do Amazonas foi alertado sobre riscos no presídio de Maués antes da fuga em massa

MAUÉS (AM)O Governo do Amazonas já havia sido alertado sobre a grave falta de segurança no Presídio Regional de Maués, mas não atendeu aos pedidos formais para o envio de mais agentes penitenciários. A informação foi confirmada por duas fontes ouvidas pelo Jirau News, nesta sexta-feira (26), que relataram sucessivas tentativas da Câmara Municipal de Maués de buscar apoio junto à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP).

A unidade prisional é administrada pelo Governo do Amazonas, responsável pela política de segurança pública e pelo sistema penitenciário estadual, atualmente sob a gestão do governador Wilson Lima (União Brasil).

De acordo com uma das fontes, vereadores de Maués estiveram, no início do mês, em reunião com o coronel Paulo César, da SEAP, ocasião em que foi apresentada a situação crítica de pelo menos três presídios, incluindo o de Maués. Segundo o relato, o representante do governo estadual se comprometeu a “resolver o problema”, que envolvia principalmente a falta de agentes penitenciários, incluindo a necessidade de uma agente mulher para a realização de revistas femininas. Apesar disso, até o momento, nenhuma medida concreta teria sido adotada.

(Fonte: Diário Oficial)

Uma fuga em massa de 14 detentos foi registrada na Unidade Prisional de Maués na última quarta-feira (24). A evasão ocorreu durante o banho de sol, no período da manhã, após os presos conseguirem serrar uma grade de proteção no pátio da unidade. Entre os fugitivos há detentos com antecedentes por crimes graves, como roubo, homicídio e tráfico de drogas, o que ampliou o medo da população. Até o momento, apenas dois presos foram recapturados.

Em fevereiro, a Câmara Municipal de Maués já discutia publicamente os riscos da inauguração do Novo Presídio Regional sem o devido reforço na segurança pública do município, conforme publicação do jornal Folha de Maués. Durante o debate, parlamentares alertaram que a cidade, que conta com menos de 20 policiais militares e uma Delegacia Interativa com número reduzido de agentes civis, não teria estrutura suficiente para absorver o impacto da nova unidade prisional, que passou a receber detentos de diversos municípios do Baixo Amazonas.

Na ocasião, vereadores defenderam que a instalação do presídio deveria ser acompanhada do aumento do efetivo policial, da criação de um batalhão da Polícia Militar, do reforço da Polícia Civil e da disponibilização de mais viaturas para o policiamento ostensivo, tanto na sede urbana quanto na extensa zona rural de Maués, que reúne mais de 200 comunidades ribeirinhas. Os parlamentares também manifestaram preocupação com o crescimento de furtos e roubos, registrados em plena luz do dia e durante a noite, atingindo moradores e estudantes da rede pública.

O debate contou com manifestações de diversos vereadores, que cobraram providências do Governo do Estado do Amazonas e anunciaram a adoção de medidas institucionais para buscar apoio junto a deputados estaduais e à cúpula da segurança pública. À época, os parlamentares advertiram que a entrega do presídio, com capacidade para 125 detentos, sem o reforço imediato da estrutura de segurança, poderia ampliar a sensação de insegurança no município e sobrecarregar um efetivo policial já considerado insuficiente para a realidade local.

O Presídio Regional de Maués, localizado na estrada da Guaranatuba, a cerca de 4,3 quilômetros do centro da cidade, recebe detentos de diversos municípios da calha do Baixo Amazonas e é administrado diretamente pela SEAP. A unidade funciona com apoio pontual da Polícia Militar, que cede alguns policiais para auxiliar na segurança interna. Segundo moradores, o problema é o reduzido efetivo da PM no município. “Para uma cidade com mais de 66 mil habitantes, não chega a 20 policiais”, afirmou um deles.

Ainda conforme as fontes, a Câmara Municipal de Maués encaminhou diversos pedidos formais ao Governo do Amazonas solicitando o reforço tanto do efetivo penitenciário quanto da Polícia Militar. Os apelos, no entanto, não foram atendidos, mesmo com registros oficiais de que vereadores se deslocaram à capital para tratar diretamente do tema com autoridades estaduais.

O vereador Paulo Rodrigo Rodrigues confirmou ao Jirau News que fez a solicitação. “Já solicitemos várias vezes. A inauguração desse presídio sempre foi visto por nós e pela população como um motivo de preocupação juramento por conta da falta de efetivo policial e de facções que podem se enraizar em Maués, sendo que na temos sequer efetivo policial para dar segurança aos moradores. Lamentamos que isso tenho ocorrido em Maués”, disse o parlamentar.

Caos na segurança pública do Amazonas

Os episódios recentes indicam que os problemas de segurança pública no interior do Amazonas extrapolam dados estatísticos e se refletem em falhas recorrentes na estrutura estatal de controle e proteção. Ao longo de 2025, uma sequência de ocorrências em diferentes municípios evidenciou a fragilidade do aparato policial fora da capital.

Em Tonantins, um suspeito de crime grave foi morto por populares em frente à delegacia da cidade, episódio citado em debates institucionais como exemplo das dificuldades enfrentadas pelas forças de segurança para conter situações críticas, mesmo em áreas sob responsabilidade direta do poder público.

(Foto: Reprodução)

Outro caso de grande repercussão ocorreu em Santo Antônio do Içá, onde foi registrada violência contra uma mulher indígena enquanto ela estava sob custódia em uma delegacia. O episódio expôs falhas no sistema de custódia e na proteção de pessoas detidas, levantando questionamentos sobre as condições de funcionamento dessas unidades policiais.

A precariedade estrutural também levou à interdição da delegacia de Envira por decisão judicial, após constatação de que o espaço não oferecia condições adequadas para o exercício da atividade policial nem para a segurança de servidores, presos e da população.

Inspeção realizada, em outubro, pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM), apontou que 22 presos estavam distribuídos em celas improvisadas, em condições de insalubridade, e que, devido ao baixo efetivo para manutenção prisional, não tinham direito à visita familiar nem ao banho de sol. No anexo utilizado como carceragem, mulheres estavam separadas em um espaço improvisado anteriormente destinado a policiais.

Relatórios e documentos oficiais também indicam a ocorrência de fugas, tentativas de fuga, arrombamentos, sabotagens e ameaças de facções criminosas em municípios do interior, como Fonte Boa e Alvarães, onde delegacias operam com vigilância insuficiente e controle precário de presos.

Paralelamente, autoridades estaduais já reconheceram a presença de facções criminosas em municípios amazonenses, o que amplia a pressão sobre estruturas locais fragilizadas e contribui para o aumento da sensação de insegurança em comunidades ribeirinhas e cidades de pequeno porte.

Diante desse cenário, o governo federal manteve a Força Nacional de Segurança Pública no Amazonas por períodos prolongados, em 2025, com atuação em municípios como Coari e Barcelos. A medida evidencia a necessidade de reforço externo para conter a criminalidade em regiões onde a estrutura estadual apresenta limitações operacionais.

(Fonte: Diário Oficial da União)

Em conjunto, os casos registrados ao longo do ano reforçam avaliações institucionais de que a crise de segurança no interior do Amazonas envolve problemas estruturais, que colocam sob questionamento a capacidade do governo estadual de garantir a ordem pública de forma contínua.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) foram oficialmente procuradas pela reportagem para prestar esclarecimentos sobre a falta de reforço na segurança do presídio e do município de Maués, mas não haviam respondido aos questionamentos até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto para manifestações

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Aldizangela Brito

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