NOVA IORQUE (EUA) – Durante o discurso na abertura do debate de chefes de Estado e de governo da 79ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24), o presidente Lula (PT) criticou o uso demasiado de dinheiro para guerras e a inação dos governos para acabar com a fome e neutralizar as mudanças climáticas.
Lula disse que a demonstração de enfraquecimento da capacidade coletiva de negociação e diálogo aconteceu no domingo (22), quando o plenário aprovou com dificuldade o Pacto para o Futuro. “Seu alcance limitado também é a expressão do paradoxo do nosso tempo: andamos em círculos entre compromissos possíveis que levam a resultados insuficientes”, disse.
Lula afirmou que é necessário dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional, com escalada de disputas geopolíticas e de rivalidades estratégicas. O presidente disse que 2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.
“Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares. Mais de 90 bilhões de dólares foram mobilizados com arsenais nucleares. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima. O que se vê é o aumento das capacidades bélicas”, afirmou Lula.
Ainda no discurso, Lula disse que o uso da força, sem amparo no Direito Internacional, está se tornando a regra, r que o mundo presencia dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem confrontos generalizados, um deles, na entre Rússia e Ucrânia, em que a guerra se estende sem perspectiva de paz.
“O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano. Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, disse.
Lula também afimou que a guerra, com armamentos cada vez mais destrutivos, traz à memória os tempos mais “sombrios” do confronto estéril da “Guerra Fria”.
Diálogo
Para o presidente brasileiro, é necessário criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento, defendido pelo Brasil e pela China. No Oriente Médio, segundo Lula, o direito de defesa transformou-se no direito de “vingança”, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo.
“Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças”, afirmou Lula.
Lula também chamou a atenção dos países, para os conflitos longe dos holofotes. “Conflitos esquecidos no Sudão e no Iêmen impõem sofrimento atroz a quase trinta milhões de pessoas. Este ano, o número dos que necessitam de ajuda humanitária no mundo chegará a 300 milhões”, disse.
Meio Ambiente
Sobre o tema, Lula afirmou que é impossível “desplanetizar” a vida em comum, e que a humanidade está condenada à interdependência da mudança climática que mesmo com a polarização, o negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global.
“O planeta já não espera para cobrar da próxima geração e está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega”, disse.
Lula disse que 2024 caminha para ser o ano mais quente da história moderna, com desastres como furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa já deixaram um rastro de mortes e de destruição.
O presidente citou o desastre ambiental no Rio Grande do Sul, com a maior enchente desde 1941 e a maior estiagem na Amazônia em 45 anos. Lula disse que o governo brasileiro não terceiriza responsabilidades nem abdica da sua soberania e que o desmatamento na Amazônia reduziu em 50% no último ano e deve erradicá-lo até 2030.
“Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e com o crime organizado.
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