MANAUS (AM) – A família do homem autista identificado como Lincoln, de 40 anos, acusado de perseguir o deputado Amom Mandel (Cidadania) afirmou que a ação de deter o rapaz foi “arbitrária” e que nenhum crime foi praticado. Na noite dessa segunda-feira (14), o deputado federal divulgou vídeos nas redes sociais afirmando que foi perseguido pelo homem no Manauara Shopping. Lincoln foi levado para o 1º DIP.
“Ele foi detido pela polícia e, já na delegacia, fez ameaças a minha vida falando em vísceras antes de desligar os disjuntores da delegacia. Gravei a parte onde ele desligou as luzes da delegacia para tentar contra a minha vida. Logo após desligar as luzes, foi algemado pelos policiais civis. Esse tipo de situação não pode ser tolerada. A segurança na nossa cidade precisa melhorar – e muito”, disse o deputado, que também é autista.
Após criticar a falta de segurança na cidade, Amom agradeceu aos policiais. “Graças a Deus os policiais todos foram muito competentes, dedicados e atenciosos. Estou até agora na delegacia para o registro do fato, onde farei também um pedido de medida cautelar para que ele seja proibido de se aproximar de mim e da minha equipe novamente. As mulheres do nosso time já foram vítima de perseguição do mesmo homem mais de uma vez”, disse.
Ao JIRAU NEWS, a mãe de Lincoln, Cleonice Braga da Costa, de 62 anos, disse que o filho tem transtorno do espectro autista (TEA) e que se empenhou para eleger Amom Mandel para prefeito de Manaus nas eleições municipais.
“Se esforçou bastante, chegava aqui tarde da noite, nos comícios que ele ia fazer, ele estava lá para ajudar. Aí ele estava sempre ajudando, porque queria que esse Amon ganhasse, porque ele é autista igual a ele. Mas aí, poxa, ele foi ontem lá para o shopping, encontrou esse Amon, queria tirar uma foto com ele. Não permitiram”, disse.
Cleonice disse, ainda, que afastaram o rapaz, mas quando ele já estava indo embora, um assessor ligou para dizer que o deputado queria falar com Lincoln. “Não demorou, quando ele estava por lá ainda, um fulano que estava com esse Amon, que é da polícia também, disse que é assessor dele, ligou para o Lincoln. Não sei como é que ele conseguiu esse telefone”, questionou.
Ao retornar, pensando que iria falar com Amom, Lincoln foi detido e levado para a delegacia. “Quando chegou o Lincoln, meu filho esperou, ficou lá aguardando. Esse homem apareceu, chamou a polícia e prendeu ele”, relatou a mãe, afirmando que o filho só queria tirar uma foto com o ex-candidato.
“Agora, ele [Amom] alega que o meu filho estava perseguindo ele. Disse que isso é crime. Perseguindo como? Ele só estava querendo tirar uma foto com ele. Aí, do nada, esse Amon manda esse homem para lá, para mandar prender o meu filho”, afirmou.
Segundo a mãe de Lincoln, houve negligência na delegacia, pois chegou ao local por vota das 8h da noite e foi atendida e liberada durante a madrugada desta teça-feira (15).
“Desse horário, até a hora de sermos atendidos, eles fizeram abuso com a gente, porque ele era para ter sido atendido logo, devido ter condições de prioridade, que ele é autista. Aí, esse Amon, e mais esse fulano que alegava que era da polícia, fez o escarcéu lá, dizendo que tinha um monte de vítimas, dizendo que ele estava perseguindo um monte de gente e que estava perseguindo o Amon”, disse Cleonice explicando o motivo do filho ter se alterado na delegacia.
Neste momento, segundo a mulher, o filho se alterou e foi algemado. “O meu filho se alterou, porque ele tem problema de autismo, ele se altera, ainda mais quando acontecem essas coisas. Aí, esse fulano algemou ele, coisa que também foi arbitrária”, disse.
“Meu filho ficou algemado, desde acho que de 2 horas, até a gente ser atendido. E eles ficaram, aí eu perguntava: ‘E aí, quando é que vão chamar ele, meu filho e a mim?'”, relatou Cleonice.
Espera na delegacia
Cleonice disse também que, no período que ficou com o filho na delegacia, não recebeu atenção devida, bem diferente do atendimento ao deputado federal.
“Fizeram até lanche, nós ficamos lá desde antes das 8 da noite até quase 2 horas [da manhã]. Quando nós saímos de lá, porque eles estavam saindo da sala, dizendo: ‘Ah, porque estão em atendimento, estão resolvendo’. Como esse Amon estava lá, todo tempo saindo da sala, indo para não sei aonde, e não resolvia isso, desde 8 e pouco. Aí, chamaram o lanche, lancharam à vontade, ficaram lá, todos eles, o pessoal do Amon e mais o pessoal da delegacia. Depois de todo esse tempo, a gente aguardando até quase 2 horas da manhã, aí o Amon resolveu ir embora”, relatou.
A mãe de Lincoln seguiu com o relato: “Não aconteceu nenhum crime, meu filho não agrediu ninguém, não ameaçou ninguém, simplesmente esse cara resolveu dizer que meu filho estava perseguindo o Amon, perseguindo, lá no shopping, vamos ver se tem essas câmeras ainda, porque o que o meu filho fez, não se pode dizer que foi um crime. Ele só queria tirar uma foto com esse, sinceramente desprezível esse homem, e felizmente ele não ganhou, porque acho que seria o pior prefeito que poderia existir na nossa cidade, porque para tratar uma pessoa que procurou ajudar ele, na campanha todinha”.
O outro lado
Questionada pela reportagem do JIRAU NEWS, a assessoria do deputado Amom Mandel disse que Lincoln nunca trabalhou diretamente na campanha do candidato a prefeito pelo Cidadania, mas que teria se aproximado nos últimos dias “querendo obter informações internas e falando, inclusive, em ouvir ‘vozes’”.
A assessoria confirmou que o homem se aproximou de Amom para tentar tirar uma foto durante a campanha. “Porém, no incidente de ontem, Amom foi perseguido por ele no shopping. Quem o conduziu para a delegacia foram as autoridades policiais após serem notificadas do incidente, não o próprio Amom ou a sua equipe”, disse a assessoria.
Sobre o fato de Lincoln ser autista, a assessoria disse que “Amom também é autista, bem como a assessora que estava com ele no momento da perseguição. O diagnóstico de autismo não é justificativa para o cometimento de crimes”, disse a nota enviada ao JIRAU NEWS.
A assessoria também disse que o homem enviou novas ameaças dizendo que “destruiria” Amom usando sua “influência” no Judiciário, no meio político e até na imprensa, e alegou que as mensagens foram logo antes do JIRAU NEWS entrar em contato com a assessoria.
Nas mensagens, Lincoln supostamente afirma que é mais inteligente que Amom e que o deputado mereceu todos os “ataques” de David contra ele. As mensagens também afirmam que Lincoln teria influência na “política”, no Judiciário” e na “mídia”.
Leia a nota da assessoria de Amom Mandel na íntegra:
- Este homem nunca trabalhou diretamente conosco, mas se aproximou de algumas assessoras do deputado federal Amom Mandel nos últimos dias de campanha, querendo obter informações internas e falando, inclusive, em ouvir “vozes”. Ele se aproximou mais de uma vez do Amom para tentar tirar fotos durante a campanha, o que é normal e acontece diariamente com centenas de pessoas. Porém, no incidente de ontem, Amom foi perseguido por ele no shopping. Quem o conduziu para a delegacia foram as autoridades policiais após serem notificadas do incidente, não o próprio Amom ou a sua equipe. A ida à delegacia foi uma atitude de praxe que qualquer pessoa faria em uma situação de perseguição. Quanto aos transtornos, Amom também é autista, bem como a assessora que estava com ele no momento da perseguição. O diagnóstico de autismo não é justificativa para o cometimento de crimes – e se for para levar isso em consideração, dois autistas também foram vítimas do ato..
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